15.2.22

Jabor é prosa, o resto é poesia

 Era um sinal. No trânsito caótico dos jardins, eu atravessava perigosamente distraída, pensando no futuro incerto da minha literatura, quando dentro de um táxi, vi feições conhecidíssimas. Traços revoltados. Olhos de lince. Cabelos Mutantes. Jabor! Sorrio bestamente, e ele maravilhosamente humano, retribui. O taxi engata e dispara. Meu coração também. Arnaldo, cronista mor e mortífero, um assaltante de pensamentos alheios, precursor das colunas cínicas, ladrão de palavras difíceis... Um simples mortal, esse mestre em pontos de interrogação canalhas e exclamações pontiagudas!

Sim, era mais do que um sinal para mim, um farolzinho piscando como uma armação do destino, induzindo-me a continuar nos meus escritos. Um encontro não marcado com esse jornalista perturbado, exorcista das inspirações dantescas e frases caninas em processo de carnificina. Um monstro consagrado, montado em um olímpio de sarcasmo. Caluniado por alguns, venerado por outros. Sem meias palavras: Arnaldinho das Jaborices ou Jabor das Arnaldices? Quem há de defini-lo?
Jabor , eis que sou uma tola, mas no dia em que te vi passei mal. Tuas sobrancelhas arqueadas fustigaram todas as minhas pretensões de cronista esperta em expertizes. Voce me escrutinizou em um quarto de segundo. Devassou meu sonho secreto, minha ambição de ser seu duplo. 
Voltei para casa estafada desse encontro sinistro do imprevisto. Pálida eu? Marrom, da cor da estampa de minha blusa que ria de mim como uma  amiga da onça. Olha só, Jabor, se você também lembrar de mim  em uma de tuas crônicas saudosistas, coloque o título:
A Pedestre que me amou

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